sexta-feira, 16 de outubro de 2015

EXPEDICION RUTA DE LOS ANDES 2015 - Parte XIV - SALTA/Argentina PELO PASO DE JAMA (Dia 22)



DIA 22  - SAN PEDRO DE ATACAMA/Chile A SALTA/Argentina (24/04/2015)

Na manhã seguinte, acordamos cedo mais uma vez, como de praxe em nossa viagem. Não precisávamos sair tão cedo, quanto no dia em que fizemos o trecho Iquique/Chile a San Pedro de Atacama/Chile, passando pela Mão do Deserto. A quilometragem prevista para este dia era muito menor. Além disso, havia pesquisado que as horas iniciais do dia e no final da tarde devem ser evitadas, pois o clima no Paso de Jama é sempre imprevisível.

Tomamos nosso café da manhã, acertamos as contas com as proprietárias da casa e arrumamos nossos apetrechos nas motos. Partimos às 07:40 h. Seguimos em direção à fronteira com a Argentina (Paso de Jama), pela Ruta 27. Mal saímos da cidade e tivemos uma surpresa: a estrada estava fechada! Sim, havia um portão fechando a estrada. Ficamos sabendo que rotineiramente eles fecham a passagem pelo Paso de Jama no horário noturno, em razão das baixas temperaturas. Como estávamos de moto, nós poderíamos ter contornado pelo acostamento, mas como turistas educados (e representantes do nosso Brasil), esperamos a chegada dos policiais, que às 08:00 h liberaram o tráfego na estrada.

Iniciamos uma subida de forma muito gradual. Eu achava que teríamos um paredão pela nossa frente, mas a verdade que subíamos cada vez mais, pouco a pouco. E aumentava o frio também. Esse foi o único trecho da viagem em que tivemos contato direto com a neve. Neve velha, muito pouca, mas neve de toda forma. Obviamente paramos para umas fotos.
Enfim a neve I

Enfim a neve II















Terminado nosso registro fotográfico, retomamos a viagem. Desde nossa saída de San Pedro de Atacama/Chile, viajávamos por uma região totalmente desabitada. Éramos apenas nós e os caminhões na estrada, além do frio, cada vez mais intenso. Interessante notar como o frio nos afeta de maneira diferente. Enquanto para mim, a sensação maior era nas mãos, não obstante estar vestindo duas luvas, para os outros os problemas foram também os pés, ou o corpo todo. Agradeci muito por minha Sertão ter aquecimento nas manoplas, um acessório que nunca havia usado antes, e que aos poucos foi amenizando a sensação do frio nas mãos. Segundo o termômetro da F GS 800 de Rodolfo, chegamos a suportar até 7,50 graus negativos, ao longo deste trajeto. Por fim chegamos ao posto fronteiriço do Paso de Jama, compartilhado pelas duas nações vizinhas. É uma grande estrutura, em plena cordilheira. Infelizmente, devido ao frio, cuidamos logo dos procedimentos de saída do Chile e entrada na Argentina, e não fizemos o registro fotográfico deste lugar. Chegamos às 09:58 h, percorrendo 168 km neste trecho.

Cabe aqui um esclarecimento aos futuros viajantes. A maioria dos relatos que li ou assisti na web, citavam a necessidade de se efetuar os trâmites de saída do Chile, ainda em San Pedro de Atacama/Chile, Em alguns poucos relatos, havia a informação que as aduanas dos dois países estavam centralizadas no Paso de Jama. Durante nossa estadia naquela cidade, procurei me informar e confirmei que a saída seria feita na própria divisa, no Paso de Jama.

O processo funciona de forma bastante organizada e totalmente sincronizado. Fizemos os procedimentos no lado chileno e andando apenas alguns passos, iniciamos os procedimentos de entrada no lado argentino. Terminados os procedimentos, adentramos na terra de "nuestros hermanos". Poucos metros após a fronteira existe um super bem estruturado posto da YPF (a "Petrobrás" argentina), com uma excelente loja de conveniência. Um verdadeiro oásis em plena gélida cordilheira andina! Paramos para tomar um café bem quente e forrar o estômago com algum alimento. Encontramos lá um grupo de brasileiros, que estavam viajando numa camionete, fazendo o sentido contrário ao nosso.



Posto YPF, um oásis em pleno Paso de Jama

Proteção para os pés, improvisada.
Saímos do posto YPF às 11:22 h. Seguimos agora pela Ruta 52, apreciando belas paisagens. Nossa próxima parada programada era em Susques/Argentina. O relevo era em geral plano e a viagem transcorreu tranquila. O frio ficara para trás. Passamos pelo primeiro salar de nossa viagem, o Salar de Olaroz. Paramos em um posto, pouco antes da cidade de Susques/Argentina, às 12:17 h, percorrendo 116 km neste trecho.

O posto que paramos, apesar de ser inédito para nós, já era meu conhecido. Eu o reconheci de uma série de vídeos produzidos pelo Haissem Ejje. O frentista conhecia o Brasil, está habituado com a presença de muitos motociclistas brasileiros, e fez questão de tirar uma foto conosco. Deixamos de lembrança para ele um adesivo da Expedicion Ruta de los Andes e do nosso moto-clube.


Reabastecimento em Susques/Argentina.
Apenas reabastecemos as motos, cumprimentamos nosso novo amigo, e partimos às 12:38 h. Pelos meus levantamentos, faltavam ainda mais de 300 km até Salta/Argentina. Precisaríamos abastecer em San Salvador de Jujuy/Argentina, capital da província de Jujuy, já que em Purmamarca/Argentina, não havia posto de combustível, conforme havíamos nos informado com o motociclista brasileiro, que encontramos no "pueblo" de Machuca, citado no post anterior.

Continuamos ainda pela Ruta 52. Rodamos alguns quilômetros, e nos deparamos com uma magnífica visão, minha velha conhecida: Salinas Grandes. Salinas Grandes é um grande deserto de sal, que a Ruta 52 atravessa. Não chega nem perto do Salar de Uyuni, que fica na Bolívia (o maior do mundo), mas mesmo assim sua paisagem é impressionante, principalmente para quem a visita pela primeira vez. Eu já a havia visitado em 2013, quando fui a Salta/Argentina com meu filho mais velho. A parada no lugar é quase que obrigatória.

A maioria do grupo parou logo no início, em pela salina, junto de alguns motociclistas que já estavam parados por lá. Eu e Lauro seguimos mais um pouco à frente, parando numa construção à beira da estrada. Lá existe apenas esta estrutura, construída com "tijolos" de sal, alguns banheiros químicos e vendedores de artesanato feito com o sal bruto. Apesar desta falta de infra-estrutura turística, é o ponto de parada de vans e ônibus que fazem passeios turísticos, além das motos e carros particulares. Foram muitos minutos de contemplação, fotos, filmagens e pilotagem no sal.

Ponto de parada, Salinas Grandes

Pilotando em Salinas Grandes

Casal australiano e seu "perro"



Após estes momentos, retomamos nossa viagem. Eu já havia passado no trecho a seguir,de van, em 2013, num passeio turístico, e sabia que alguns quilômetros à frente nos esperava a Cuesta Lipán. Uma descida interminável com várias curvas fechadíssimas e um belo visual. Deixaríamos de vez as altas montanhas dos Andes para trás, descendo de uma altitude média de 4.000 metros para cerca de uns 1.100 metros, aproximadamente, a altitude média de Salta/Argentina. Ao chegarmos no início da cuesta, não pudemos evitar mais uma parada, para nosso registro fotográfico.


Iniciando a descida da Cuesta Lipán
Realizamos nossa descida cuidadosamente, passando por Purmamarca/Argentina, ladeada por montanhas multicoloridas, uma delas denominadas "Cerro de Siete Colores". A partir desta cidade, passamos a rodar pela Ruta 09. Seguimos por ela até a altura de San Salvador de Jujuy/Argentina. Pouco após esta cidade, cometemos um erro em nosso percurso, por conta da configuração errada no GPS de Helenildo.

Seguimos a indicação dele e continuamos pela Ruta 09. Eu ainda parei para argumentar que estava estranhando o caminho, mas resolvemos seguir o caminho indicado pelo GPS. Este caminho era denominado adiante por "La Cornija". No início era uma estrada simples, de faixa única, mas alguns quilômetros adiante a estrada virou uma quase ciclofaixa! Sim uma estrada asfaltada, mas muito estreita, cheia de curvas, vegetação fechada e muitas vacas! Não tirei fotos mas inseri abaixo uma foto tirada pelo Moto Grupo Liberdade Vigiada, que em 2010 também caiu neste mesmo erro.



Seguimos ziguezagueando por esta estrada, desviando das fezes bovinas, abundantes por todo o caminho. Vez ou outra cruzávamos com algum automóvel. Além disso havia a preocupação com uma possível pane seca, especialmente no meu caso. Com imensa alegria saímos daquela estrada de brinquedo e voltamos a uma estrada normal, já próximo de Salta/Argentina. AVISO AOS FUTUROS VIAJANTES: esse erro parece ser comum aos que fazem o percurso de Purmamarca/Argentina a Salta/Argentina. De fato o caminho por "La Cornija", é mais curto cerca de uns 30 km. Mas nem sempre o mais curto significa o mais rápido ou o melhor caminho. Embora a região cortada por essa estrada seja muito bela, acho melhor fazer o percurso mais longo, seguindo pela Ruta 66 até a Ruta 34. Na Ruta 34 seguir em direção ao sul, passando pela cidade de Gal. Guemes/Argentina e no cruzamento com a Ruta 09, dobrar em direção a Salta/Argentina.

Chegando em Salta/Argentina, a primeira providência foi pararmos num posto para abastecimento. Rodei aproximadamente 300 km, sem reabastecimento! A segunda providência foi acharmos o hotel que havíamos reservado: o HOTEL MISOROJ. Depois de muito rodarmos, graças ao GPS de Helenildo e às informações de alguns moradores locais, conseguimos localizá-lo.

Chegamos no hotel às 19:45 h, percorrendo 308 km desde de nossa saída do posto em Susques/Argentina. Nos acomodamos, nos arrumamos e saímos para um excelente jantar, regado pelo vinho local (feito da uva torrontes, característica da região). De brinde ainda tivemos a apresentação de um show típico. Fechamento com chave de ouro, para um dia com muitas emoções.


Segue abaixo o link para o vídeo no You Tube deste trecho da viagem e de outro que contempla este trecho e dos demais, até a chegada a Foz de Iguaçu/PR.

QUILOMETRAGEM DO DIA:    592 KM.
QUILOMETRAGEM TOTAL:  9.266 KM.

Um comentário:

  1. Em franco treinamento para o Nobel de Literatura, o companheiro Marcos descreve em detalhes a nossa aventura (e desventuras) entre o Chile e a Argentina.
    Tá muito bom. É viajar de novo!

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